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Atividade desenvolvida na aula de Língua Portuguesa - Tipologia textual (Descrição)

O texto descritivo


     Percebemos o mundo pelos sentidos. Através deles, construímos as imagens que temos de pessoas, coisas, lugares. Quando queremos transmitir a alguém uma imagem, recorremos de novo a nossos sentidos para reconstruí-la e depois exteriorizá-la por meio da linguagem. Quando utilizamos a linguagem para expressar a imagem que temos de coisas, cenas ou pessoas, construímos um texto descritivo.
     Como você já viu, na narração ocorre uma sequência de fatos que se desenrolam no tempo de tal forma que os personagens vão sofrendo transformações à medida que os acontecimentos se sucedem. Na descrição não há essa sucessão de acontecimentos no tempo, de sorte que não haverá transformações no estado da pessoa, coisa ou ambiente que está sendo descrito, mas sim a apresentação pura e simples do estado do ser descrito em um determinado momento.
      A descrição se caracteriza por ser o retrato de pessoas, objetos ou cenas. Para produzirmos o retrato de um ser, de um objeto ou de uma cena, podemos utilizar a linguagem não-verbal, como no caso das fotos e gravuras, ou a linguagem verbal (oral ou escrita). A utilização de uma dessas linguagens não exclui necessariamente a outra. Pense, por exemplo, nas fotos ou ilustrações com legenda, em que a linguagem verbal é utilizada como complemento da linguagem não-verbal. Pense também num anúncio de animal de estimação perdido em que, ao lado da descrição verbal do animal, também é apresentado como complemento àquela informação, a foto dele.
(Ernani Terra e José De Nicola. Português, de olho no mundo do trabalho. Vol. Único Ensino Médio, Editora Scipione, São Paulo, 2004)

Como redigir um texto descritivo


     Dificilmente você encontrará um texto exclusivamente descritivo. O mais comum é haver trechos descritivos inseridos em textos narrativos ou argumentativos. Em romances, por exemplo, que são textos narrativos, você pode perceber várias passagens descritivas, tanto de personagens como de ambientes.
     Ao falar sobre um personagem, por exemplo, além de contar o que lhe aconteceu, podemos apresentar uma série de aspectos que o caracterizam. Com isso, estaremos descrevendo o personagem. Por isso, ao narrarmos um fato, há momentos em que a descrição também aparece, no sentido de realçar aspectos sobre os personagens, lugares, ambientes.
     Escrever sobre os detalhes de objetos, pessoas ou cenas a que observamos com atenção é interessante, pois desenvolve a nossa capacidade de seleção, isto é, faz com que destaquemos apenas os detalhes que realmente importam numa boa comunicação escrita.
     O  nosso papel como observadores é, primeiramente, analisar, sob todos os aspectos possíveis, aquilo que vamos descrever: forma, tamanho, cor, cheiro, gosto. Enfim, aspectos que correspondem a todos os sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato.
     Um exercício interessante, que desenvolve bastante a capacidade de observação, é imaginar detalhes de uma cena, de uma pessoa ou objeto, sob diversos aspectos ou situações.
     O trecho que damos a seguir faz parte do romance A guerra do fim do mundo, onde o escritor peruano Mario Vargas Llosa conta a história da Guerra dos Canudos. O texto faz um retrato de Antônio Conselheiro, líder da revolta de Canudos, acontecida na Bahia, em 1897. Não sabemos se o escritor chegou a conhecer pessoalmente Antônio Conselheiro, mas a descrição contida no trecho faz um retrato escrito do líder.

"O homem era alto e tão magro que parecia sempre de perfil. Sua pele era escura, seus ossos proeminentes e seus olhos ardiam como fogo perpétuo. Calçava sandálias de pastor e a túnica azulão que lhe caía sobre o corpo lembrava o hábito desses missionários que, de quando em quando, visitavam os povoados do sertão batizando multidões de crianças e casando os amancebados. Era impossível saber sua idade, sua procedência, sua história, mas algo havia em seu aspecto tranquilo, em seus costumes frugais, em sua imperturbável seriedade que, mesmo antes de dar conselhos, atraía as pessoas.”

     O escritor nos apresenta um retrato verbal do personagem num determinado  momento da história. Com isso fixa sua imagem como numa fotografia.

O uso das palavras no texto descritivo


            O uso de substantivos, adjetivos, tempos verbais e metáforas são fundamentais num texto descritivo. As duas primeiras frases usadas informam a sua característica física: “o homem era alto e tão magro…”; “Sua pele era escura, seus ossos proeminentes…” Com estas informações podemos deduzir que Antônio Conselheiro ultrapassava a altura normal das pessoas que o acompanhavam e que não devia ser muito pesado, uma vez que era magro. Podemos também deduzir que poderia ser descendente de negros, uma vez que “sua pele era escura”. O autor, ao se referir aos olhos do homem, não diz a sua cor, mas usa uma comparação para transmitir ao leitor o brilho dos seus olhos: “… seus olhos ardiam como fogo perpétuo.”
     Na frase: “Calçava sandálias de pastor e a túnica azulão que lhe caía sobre o corpo lembrava o hábito desses missionários que, de quando em quando, visitavam os povoados do sertão.”, novamente o autor se vale de uma imagem conhecida pelas pessoas para informar como o personagem se vestia.
     A figura de Antônio Conselheiro, um homem que viveu na segunda metade do século XIX, surge a nossa frente como um quadro vivo no momento em que lemos essa descrição. E isso acontece por força dos tempos verbais usados. No exemplo, usou-se o pretérito imperfeito (era, ardiam, calçava, caía, lembrava, visitavam, havia, atraíam) porque, como se trata de um personagem histórico, o uso desse tempo verbal permite ao escritor recuar no tempo, tornando presente o que foi passado.
     Ao redigirmos um texto descritivo devemos ter em mente que a construção da imagem que queremos transmitir aos nossos leitores deva ser a mais real possível. Como a descrição trabalha com imagens que são representadas por palavras, essas devem se apresentar devidamente organizadas nas frases onde os detalhes, dados e características se relacionem para que a imagem verbal daquilo que se pretende descrever, seja entendida.
     Um texto descritivo também não se resume apenas à descrição física pura e simples da imagem, principalmente de pessoas. É fundamental que a descrição física seja acompanhada da descrição psicológica do personagem.
     No trecho  a seguir o autor descreve psicologicamente Antônio Conselheiro. Veja: “Era impossível saber sua idade, sua procedência, sua história, mas algo havia em seu aspecto tranquilo, em seus costumes frugais, em sua imperturbável seriedade que, mesmo antes de dar conselhos, atraía as pessoas.”

Agora faça os exercícios a seguir:

Questão 1. Leia atentamente o texto abaixo para responder às questões:
1. “Zezé Mateus era um verdadeiro imbecil. Não ligava duas ideias; não guardava coisa alguma dos acontecimentos que assistia. A sua única mania era beber e dizer-se valente. Topava todos os ofícios: capinava, vendia peixe e verdura, com cesto à cabeça; servente de pedreiro, apanhava  vendia passarinhos, como criança; e tinha outras habilidades desse jaez.
2. Era branco, com fisionomia empastada, cheia de rugas precoces, sem dentes, todo ele mole, bambo. A sua testa era deprimida, e era longo e estreito o seu crânio, do feitio daqueles a que o povo chama “cabeça de mamão-macho”.
3. Totalmente inofensivo, quase inválido pela sua imbecilidade nativa e pela bebida, uma família a quem ele prestava pequenos serviços – ir às compras, ao açougue, lavar a casa – dava-lhe um barracão na chácara, onde dormia, e comida, se estivesse presente às refeições. Encontrava-se nessa ruína humana o melhor da turma e o único que não tinha maldade no coração. Era um ex-homem e mais nada.”
(Lima Barreto. Clara dos Anjos.) - No fragmento apresentado, Lima Barreto tanto nos traça o perfil social e psicológico, como físico do personagem Zezé Mateus.

a) Identifique três características físicas do personagem; b) Identifique três características psicológicas do personagem; c) O autor estrutura a descrição do personagem em três parágrafos. O que se destaca em cada parágrafo?


Questão 2 – Os textos abaixo se referem ao mesmo personagem Antônio Conselheiro, descritos por três pessoas. Naturalmente essas descrições construíram na sua mente uma imagem que só você conhece. Seu trabalho será descrever a imagem que você construiu baseado nas informações dos três textos. Vamos aos textos: 1.“[…]não havia uma só vila, ou lugarejo obscuro, em que não contasse adeptos fervorosos, e não lhe devesse a reconstrução de um cemitério, a posse de um templo ou a dádiva providencial de um açude; insurgira-se desde muito, atrevidamente, contra a nova ordem política e pisara, impune, sobre as cinzas dos editais das câmaras de cidades que invadira[…]” (Euclides da Cunha. Os Sertões.) 2. “Manhoso, malvado era ele Com capa de santo enganava Ao bom povo d’aquele sertão Com doçura a eles falava.” (Manoel Pedro das Dores Bombinho. Canudos, história em versos.) 3. “Nunca mais pude esquecer aquela presença. Era forte como um touro, os cabelos negros e lisos lhe caíam nos ombros, os olhos pareciam encantados, de tanto fogo, dentro de uma batina de azulão, os pés metidos numa alpercata de currulepe, chapéu de palha na cabeça. Era manso de palavras e bom de coração. Só aconselhava para o bem.” (Depoimento de Honório Vilanova, sobrevivente de Canudos, ao escritor Nertan Macedo, em 1962. In: www.portfolium.com.br)


Texto descritivo realizado pela aluna Gabriela Caroline Kroth (3º ano Normal/Magistério) - Colégio Sagrado Coração de Jesus, de Arroio do Tigre:



Aluna Gabriela Caroline Kroth

    Antônio Conselheiro era alto, grande e forte. Na primeira impressão, parecia malvado, mas era extremamente bondoso, apesar da aparência dos cabelos e barba compridos que assustava de longe. Cativava a todos com seu olhar profundo, voz suave e a calma que transmitia. Qualquer um que se aproximasse dele sentia um desejo enorme de seguir seus passos e se parecer com ele.                       
    Era misterioso e sábio, demonstrava isso em sua face. Ele parecia ser poderoso e ter autonomia para mudar e controlar coisas e pessoas ao seu redor. Tinha um ar de feiticeiro, de superior, o contrário do que realmente era. Parecia algo e não era. Ao olhá-lo por alguns instantes, podia-se perceber sua bondade, adentrar suas intenções. Era o tipo de pessoa que causa tranquilidade, segurança e ao mesmo tempo constrangimento. 

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