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Florbela Spanca: 100 anos do seu nascimento

FLORBELA ESPANCA
(8/12/1894 – 8/12/1930)
Poeta portuguesa da região do Alentejo, Florbela D’Alma da Conceição Espanca nasceu em 8 de dezembro de 1894, registrada como filha de pai desconhecido, mas educada pelo pai e pela madrasta em Vila Viçosa.
Os três casamentos fracassados, as desilusões amorosas e principalmente o suicídio do irmão Apeles Espanca, durante um voo de treino sobre o Tejo, em 1927, marcaram profundamente a vida e a obra de Florbela Espanca.
Em dezembro de 1930, agravados os problemas de saúde, sobretudo de ordem psicológica, a poeta comete suicídio, às 2 horas da manhã, no dia e na hora do seu aniversário de 36 anos.
Florbela Spanca 

Um dos poemas mais conhecidas de Florbela Spanca:

Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente…
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

(Florbela Espanca, «Charneca em Flor», in «Poesia Completa»)

[Artigo da jornalista Isabel Peixoto (Jornal de Notícias) sobre o 120º Aniversário de Florbela espanca com base em entrevistas a José Carlos Fernández, Director Nacional da Nova Acrópole e biógrafo da poetisa, e a Severina Gonçalves, coordenadora do programatransforma(te) e editora dos poemas inéditos da poeta calipolense]

"Investigadora acredita que existe material inédito nas mãos de privados.

Passam hoje 120 anos sobre o nascimento de Florbela Espanca, a poetisa que escolhei morrer no mesmo dia, menos de quatro décadas depois. Inconformada com o mundo, e por isso infeliz, terá deixado escritos que ainda não foram revelados.

A investigadora Severina Gonçalves [coordenadora do programa transforma(te) da Nova Acrópole] confirmou ao JN a «forte probabilidade de ainda vir a ser encontrado material relevante» de Florbela Espanca. Serão poemas, cartas e outros textos inéditos que estão nas mãos de particulares algures na região Norte, onde a poetisa passou os últimos anos e onde era conhecida por todas as pessoas ligadas à cultura. «Não duvido que haja material», reforçou, sem poder alongar-se nas revelações. A autenticidade está a ser alvo de investigação.
Já tinha sido Severina Gonçalves a receber das mãos de Aurélia Borges os seis sonetos no livro «Inéditos, os últimos poemas de Florbela Espanca», publicado pela Nova Acrópole em março passado. Os poemas surgiram na correspondência trocada entre Florbela, então a viver em Matosinhos, e as seis discípulas a quem tinha dado explicações, em Lisboa, no início da década de 20, como era o caso de Aurélia Borges. Era normal Florbela terminar as cartas com um soneto.
A poetisa nasceu em Vila Viçosa há 120 anos e suicidou-se a 8 de Dezembro de 1930. Vivia em Matosinhos, casada com um médico e sem os filhos que tanto desejou. Doente, inconformada. «Foi infeliz, no sentido de não se ter conformado com uma vida sem finalidades», é a opinião de José Carlos Fernández [Director Nacional da Nova Acrópole], autor da biografia «Florbela Espanca, a vida e a alma de uma poetisa», editada há três anos.
Também responsável pela tradução da obra de Florbela para Castelhano, Fernández recorda que a poetisa vivia permanentemente «à procura dos sentido da vida» e que era uma mulher «avançada para o seu tempo», tendo sido, em 1919, das primeiras a estudar Direito (Lisboa). A sociedade conservadora da época «também a fez sofrer muito», diz o estudioso.


Irmãos muito unidos
O factor de ter passado grande parte da vida doente e de não ter conseguido aguentar a gravidez (e foram vários os episódios) ajudou a a profundar a sua tristeza. Outro grande revés, no ano de 1917, atirava Florbela Espanca para mais perto do abismo: a morte do irmão, Apeles, num acidente de aviação. «Eram muito unidos», refere o investigador, acrescentando que Florbela «nunca recuperou disso».
A vida amorosa foi tudo menos serena, com três casamentos e dois divórcios. A correspondência que manteve com António Guimarães (o segundo marido) entre 1920 e 1925 está reunida no livro «Perdidamente», uma edição conjunta da Quasi e da Câmara de Matosinhos.


A elevada sensibilidade que a caracterizava como mulher tinha, naturalmente, reflexo na poesia. «Sentia até o murmúrio de um pequeno inseto e vibrava perante qualquer acontecimento da natureza e da sociedade», diz-nos o biógrafo, que encontra na obra de Florbela a mesma «naturalidade» que se encontra numa fonte. «A poesia dela surge pura. Há uma maturidade muito grande, mas com imagens materiais, limpas», acrescenta.
Para o investigador, a obra da poetisa não conheceu fases, antes amadureceu naturalmente. «A sua poesia é formidável, considera, para juntar uma convicção: «Dentro de 15 ou 20 anos, Florbela Espanca vai ser conhecida em todo o Mundo. Vai ser tão cultivada como Fernando Pessoa».
Florbela só viveu o suficiente para ver duas obras publicadas: «Livro de Mágoas» (1919) e «Livro de Soror Saudade» (1923). Tinha 36 anos quando pôs termo à vida, com uma dose excessiva de barbitúricos."

Fonte: Isabel Peixoto - Jornal de Notícias, 8/12/14, p. 50

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