O livro Cronistas do Descobrimento é uma
antologia organizada por Antônio Carlos Olivieri e Marco Antonio Villa, com
introdução ponderada e didática, apresentando um panorama dos textos produzidos
pelos cronistas do século XVI.
Os autores selecionaram passagens de mais de
doze obras apresentando um panorama abrangente dos primeiros contatos dos
europeus com o território brasileiro e com os povos indígenas, dando-nos
oportunidade de conhecer fatos sobre o nascimento do Brasil através da palavra
de quem viveu os acontecimentos. Os textos dos cronistas se parecem com uma
grande obra de aventura, que nos surpreende a cada passo.
A obra reúne trechos começando pela Carta de
Achamento de Pero Vaz de Caminha, e encontramos entre outros, trechos de obras
de Hans Staden, cartas de jesuítas como José de Anchieta e Manuel da Nóbrega,
além de Pero de Magalhães Gândavo. Narrativas menos citadas, como a do Piloto
Anônimo e dos franceses Thevet e Léry são incluídas. São textos interessantes
que apresentam as impressões de europeus sobre o país e seus habitantes.
A obra descreve os hábitos e as riquezas
naturais do Brasil de quinhentos anos atrás; uma natureza rica em pau-brasil,
árvores frutíferas, diversidade de animais que não eram conhecidos pelo homem
europeu e que despertou o interesse de conhecer cada vez mais o que era
realmente o Brasil. Com isso, começou-se um processo de exploração, retirando
da nossa terra o que ela possuía de melhor, através do intenso trabalho dos
índios, que entregavam nossas riquezas em troca de utensílios sem valor. A
admiração dos portugueses pelos índios transformou-se em ambição e avareza,
levando-os a acabar com a cultura indígena, provocando assim a aculturação: o
índio abandona seus hábitos e costumes para absorver a cultura européia imposta
a eles.
Gabriel Soares de Sousa, um dos cronistas cujo
texto está inserido nesta obra, tece considerações críticas a respeito da
liberdade excessiva dos índios, evidenciando uma sociedade livre, portanto não
regida por leis de controle social, fato que dificultava o domínio mais prático
e intensivo sobre o habitante local. O texto de Gabriel também nos revela o
paradoxo sustentado no fato de que a catequese ou conversão do índio ao
cristianismo não está relacionado a um estado de consciência de fé, por parte
do Gentio.
Pode-se observar nos textos dos cronistas do
descobrimento, que versam, em boa parte, sobre a questão do desrespeito às
tradições culturais e intelectuais de um povo - basta lembrar a visão do índio
como destituído de saber, de tradição e de cultura a reforçar a discriminação
dos valores do povo conquistado, nas inúmeras cartas e nos relatos da época do
descobrimento.
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